Apresentação

Como cheguei aqui

Sempre gostei de indicar filmes e compartilhar informações, sensações e opinião pessoal sobre eles. A atividade cinematográfica é uma das minhas paixões. Optei aqui por indicar 3 filmes por mês, manifestando a minha opinião como um simples espectador, compartilhando algumas informações sobre os filmes selecionados. Espero que o resultado seja agradável para quem visitar.

Enquanto for interessante, estarei por aqui...


Cinema Paradiso (Itália/França, 1988)

quarta-feira, 23 de maio de 2012

A Fraternidade é Vermelha (“Trois couleurs: Rouge”)

Eu indico
A Fraternidade é Vermelha (Polônia / França / Suíça, 1994)

Irene é Valentine, modelo suíça vivendo em Paris, longe do namorado ciumento. Sua história é interligada a de um jovem que estuda para ser juiz. Certa noite, Valentine está dirigindo seu carro de volta para casa quando atropela algo em seu caminho. Ao descer do veículo, encontra uma cachorrinha ferida, com o endereço de seu dono na coleira. Assim ela passa a conhecer a pessoa que iria alterar o curso de sua vida: um juiz aposentado, que termina seus dias espionando as conversas telefônicas de seus vizinhos. Por trás deste estranho comportamento, está o enigma de um homem cujo motivo vital é tomar posse da intimidade daquelas pessoas e acompanhar passo a passo o desenrolar de seus destinos.

Rouge – COM UM POUCO DE SPOILER:
O cineasta polonês Krzysztof Kieślowski tem a Trilogia das Cores - A Liberdade é Azul (1993), A Igualdade é Branca (1944) e A Fraternidade é Vermelha (1994) - como a sua obra-prima, sendo esta composta por três filmes, cada um inspirado no significado de cada cor da bandeira francesa. O filme A Fraternidade é Vermelha fecha a trilogia e é, de longe, o melhor dos três. Visualmente já impacta, começando pela beleza peculiar da atriz Irene Jacob, junto com o uso sutil de tons de vermelho (carros, batom, outdoor, sinal no vermelho, bolas de boliche, frutas, sangue, cadeiras e cortina de um teatro etc). A trilha sonora é muito boa, inclusive em cenas que poderiam ser barulhentas, a música sobrepõe o som natural e dá um sentido mais amigável. A fotografia é excelente, em algumas cenas a câmera passeia de forma a acompanhar o diálogo e vai dando mais sentido ao mesmo. Preste atenção em como a câmera foca o copo quebrado no boliche e como a visão da câmera sai de um local para outro enquanto os dois personagens principais conversam, principalmente no final da cena do desfile, quando a visão sai da parte alta do teatro até a parte de baixo, enquanto o juiz conta o episódio que ocorreu com ele anos atrás. Em outra cena, raios solares entram e saem de um quarto meio escuro após um comentário de um dos personagens.
Em meio a diversos fatores casuais, a modelo Valentine passa a ter momentos de convivência com o juiz aposentado e vamos percebendo que, aos poucos, o sentimento inicial de repulsa vai se transformando em afeto, e a vida e destino de ambos os personagens se transforma, pois eles passam a tomar decisões que antes não tomariam. Seria mesmo o acaso ou destinos marcados para se cruzar? Essa dúvida permeia a trama principalmente quando somos apresentados a outros personagens, como o jovem juiz que passou por situações muito parecidas com as do juiz aposentado. Podemos até decidir que se trata do mesmo personagem, com as cenas exibidas em épocas diferentes, mas nos mesmos locais por onde passa a personagem Valentine. Ou até mesmo podemos achar que a Velentine é a própria amada do juiz (ele comenta que sonhou com Valentine com aproximadamente uns 50 anos de idade, na época em que a sua amada o havia traído). Ou as histórias se repetem, ou são uma única história.
Rouge faz uso das possibilidades e consequências, mesmo em cenas silenciosas e sutis (a imagem do copo quebrado complementa uma cena anterior). Questiona as relações humanas e dá ênfase à comunicação com o olhar. Os dois personagens principais dizem a mesma frase para o outro em duas cenas separadas:
- Como sabe?
- Não foi difícil adivinhar.

Fraternidade:
A fraternidade é um conceito ligado às idéias de Liberdade e Igualdade, juntos eles caracterizam grande parte do pensamento revolucionário francês. A idéia de fraternidade estabelece que o homem fez uma escolha consciente pela vida em sociedade e para tal estabelece com seus semelhantes uma relação de igualdade, visto que em essência não há nada que hierarquicamente os diferencie: são como irmãos (fraternos). Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. A fraternidade é vermelha, assim como os laços sanguíneos, semelhantes em sentimento à amizade fraternal que surge entre uma modelo e um juiz aposentado.
No filme, somos questionados a respeito de nossa incompreensão mútua, a indiferença com que nos tratamos, o não reconhecimento do outro; também existe a falta de comunicação ou presença de mal-entendidos, pré-julgamentos. O próprio juiz comenta que não sabia se estava ao lado do bem ou do mal, quando exercia sua profissão e julgava as pessoas no tribunal. Temos até a contradição do que é supérfluo com o que é fraterno, como na cena do desfile de moda, enquanto todos olham para a modelo no palco, ela procura pelo juiz, seu amigo, no meio da platéia. Enquanto não o encontra, se sente sozinha. Quando ela o encontra no final, comenta que sente medo em relação ao que ocorre ao redor dela, e o juiz simplesmente segura a mão dela envolvida em suas duas mãos, e este gesto (sem necessidade de palavras) é o suficiente para que ela se acalme.
A cena final contém a ligação entre os três filmes, quando vemos os personagens principais de todos eles saindo da balsa, e por último surge a modelo, já ao lado do jovem juiz.
Consagrado internacionalmente após a trilogia, em 1995, Kieslowski abandonou as câmeras dizendo que estava achando tudo muito chato e preferia viver ao invés de fazer cinema. O irônico é que ele morreu logo depois, de enfarto, aos 55 anos, em março de 1996.

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Fontes:

http://www.screamyell.com.br/secoes/trilogia.html
http://clayton-melo.blogspot.com.br/2007/02/fraternidade-vermelha.html
http://cinemaeaminhapraia.com.br/2009/02/04/a-fraternidade-e-vermelha-trois-couleurs-rouge/

quarta-feira, 16 de maio de 2012

A Trilha (“A Perfect Getaway”)

Eu indico
A Trilha (EUA, 2009)

Cydney (Milla Jovovich) e Cliff (Steve Zahn) são um aventuroso casal que resolve comemorar a lua-de-mel fazendo trilhas pelas mais belas e remotas praias do Havaí. Caminhando nas selvagens e isoladas trilhas eles acreditam ter encontrado o paraíso. Entretanto, quando se deparam com um assustado grupo de turistas que informa sobre o assassinato de um casal em outra ilha eles passam a discutir um possível retorno para casa. Longe da civilização, todos aparentam ser uma ameaça e ninguém sabe em quem confiar. O paraíso se transforma em um verdadeiro inferno quando uma batalha pela sobrevivência tem início.

6 estranhos, 2 assassinos e 1 ilha paradisíaca:
Temos um enredo de suspense num cenário bacana, uma região remota do Havaí onde grupos fazem trilhas e acampam, buscando alcançar paraísos naturais. Mas este cenário entra em conflito com os anseios dos personagens, após receberem a notícia de que um casal foi assassinado recentemente numa região próxima e, com isto, existe o risco dos assassinos estarem por perto.
Steve Zhan e Milla Jovovich são o casal Cliff e Cydney, que vão passar a lua de mel fazendo uma trilha nessa região. Eles anseiam em alcançar um refúgio paradisíaco e perfeito (justificando o título original “A Perfect Getaway”). Só que o local em questão só pode ser alcançado por uma trilha e, assim, temos os riscos naturais como penhascos e correnteza, alinhados ao risco maior de se deparar com os assassinos no meio do caminho. Aqui temos uma questão interessante que é o casal entrando em discussão para decidir se vai continuar ou desistir, e a situação piora quando vão se deparando com outros casais no caminho e começam a cogitar se um deles é o assassino. A cada momento de decisão vemos o peso do ego humano e da vontade de ir até o fim, e por outro lado o medo e desconfiança em relação aos outros. Vamos acompanhando essa situação do ponto de vista do casal principal (Cliff e Cydney), mas em algum momento no meio da trama também passamos a ver o ponto de vista de um outro casal, o ex-soldado Nick e sua namorada Gina (Timothy Olyphant e Kiele Sanchez). A inversão de ponto de vista é interessante até para explicar as revelações que vão ocorrendo. Temos um terceiro casal que aparece mais esporadicamente, Cleo e Kale (Marley Shelton e Chris Hemsworth), e logo de cara as suspeitas do casal principal caem sobre eles. Inevitavelmente há uma convivência entre os casais e aí nos deparamos com uma certa paranóia entre eles, cada diálogo deixa um clima tenso pois todos estão desconfiando de todos, mas ninguém traz o assunto à tona, uma característica comum no relacionamento humano.
Fazendo uso de alguns clichês, mas sem exagerar e deixar com que a trama esfrie, podemos considerar este como uma exceção dentro de muitos filmes do mesmo gênero que não agradaram. Tinha grandes chances de ser comum e chato, mas achei que conseguiu surpreender, principalmente para quem for assistir sem muito compromisso ou expectativa. Na verdade é justamente quando começa a esfriar que o filme apresenta uma bela reviravolta. No início parece que a história vai seguir um padrão com final previsível, com pistas sendo mostradas quase o tempo todo. O filme abre possibilidade de diferentes conclusões, e para aqueles que gostam de imaginar como seria se a direção estivesse por sua própria conta, pode ou não gostar do resultado. O clima de suspense é ajudado pela interpretação dos atores, sem contar que as mulheres são lindas (principalmente Milla Jovovich). Gostei muito da atuação de Steve Zhan e Milla Jovovich, principalmente pelo fato de interpretarem os mocinhos e parecerem tão vulneráveis em meio a uma trama tão sórdida e misteriosa.
Temos espaço para momentos de ação e aventura, do tipo perseguição entre predador e presa. Nesses momentos nos resta torcer pelos inocentes... ou não. Interessante que em uma cena anterior temos também uma perseguição entre predador e presa, que é uma caçada feita a um animal, para fins de alimentação dos casais. Pode não ter sido de propósito, mas de uma certa forma uma cena complementa a outra, já que posteriormente temos uma caçada humana, seres da mesma espécie no papel de predador e presa.

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Fontes: 

http://www.cinema.com.br/filmes/a-trilha.html

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Distrito 9 (“District 9”)

Eu indico
Distrito 9 (EUA / Nova Zelândia / África do Sul, 2009)

Alguns anos atrás, os aliens fizeram seu primeiro contato com a Terra. Humanos esperavam que a raça fosse hostil e proporcionasse um ataque ao planeta. Ao invés disso, as criaturas acabam refugiadas numa favela na África do Sul, o Distrito 9. Mas ao expandirem o seu território, o governo começa a agir e contrata a MNU, uma empresa que tenta controlar os alienígenas e mantê-los em campos de concentração.

D9:
Ao invés de revisitar a velha idéia do extraterrestre que invade a Terra e, mais precisamente, os Estados Unidos, aqui a nave-mãe alienígena paira sobre Johanesburgo, uma das maiores metrópoles da África do Sul, como o próprio protagonista conta no início do filme: “Para surpresa geral, a espaçonave não parou sobre Manhattan, Washington nem Chicago. Ela veio parar diretamente sobre Joanesburgo.”. Outra inusitada façanha foi passar boa parte do filme como um documentário, com a população local narrando as desventuras de ter 2 milhões de ETs como vizinhos. O resultado é um grande realismo nas cenas, mesmo com todas as criaturas aparecendo.  A pós-produção foi feita pela equipe de Peter Jackson com um orçamento de 30 milhões de dólares. O estreante diretor sul-africano Neill Blomkamp pretendia na verdade dirigir o filme de Halo – um famoso e premiado game de tiro em primeira pessoa lançado inicialmente em 2001 para o console Xbox. Quem conhece esse tipo de jogo vai perceber que no filme Distrito 9 existem algumas cenas bem ao estilo Halo, com armas sofisticadas, pessoas e criaturas explodindo.
Cenas de ação bem bacanas começam a surgir antes que o filme fique cansativo, já que na primeira metade são mostradas, em forma de pseudodocumentário, algumas entrevistas e a operação de transferência dos alienígenas do distrito nove, um campo de refugiados na cidade sul-africana, criado há 20 anos para abrigar os visitantes perdidos do espaço. Vamos acompanhando o personagem Wikus van de Merwe, que é o encarregado dessa operação; por sinal, muito bem interpretado pelo ator estreante Sharlto Copley, amigo de infância do diretor (ambos fizeram a direção e produção do curta de 2005 Alive in Joburg, que deu origem ao roteiro de Distrito 9). O estilo de pseudodocumentário com ficção passa a ser de ação com ficção, mesmo ainda mantendo momentos com depoimentos rápidos e o uso de câmeras de rua, visores de armas de longo alcance, noticiários, vídeo de câmeras de vigilância etc. A partir daí temos explosões, armas extraterrestres exóticas, fugas e cenas movimentadas que podem empolgar o público.
O filme foi indicado a quatro Oscar em 2010 (Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado, Melhores Efeitos Visuais e Melhor Edição). As indicações de melhor filme e roteiro adaptado são conseqüência principalmente do caráter de crítica ao preconceito e segregação social. O título e a premissa de District 9 foram inspiradas pelos acontecimentos que tiveram lugar no District Six, na Cidade do Cabo, durante o apartheid. Afinal, mostra os alienígenas pobres, favelados e em situação de miséria. Cartazes que proíbem a aproximação de alienígenas estão espalhados pela região, e as pessoas entrevistadas manifestam o seu repúdio pelas criaturas, batizadas pelo nome de “camarões”, justamente pelo fato deste animal estar bem abaixo na cadeia alimentar, além de ser conhecido por alimentar-se de lixo (uma comparação fiel à forma de tratamento que a população dá aos aliens). Existe toda uma crítica à imprensa, que é manipulada pela MNU e distorce os acontecimentos, quando mostra por exemplo uma imagem manipulada de Wikus com um alienígena e insinua que ele está infectado com uma exótica doença sexualmente transmissível e altamente contagiosa. A própria MNU acaba sendo desmascarada como uma fachada para experimentos ilegais com as criaturas, pois recebe imensos lucros para aprender a manipular as armas encontradas na nave-mãe ou fabricar armas que tenham como matéria-prima as defesas naturais dos alienígenas. Wikus acaba sendo um tipo de anti-herói que despreza seu inimigo e de repente se vê forçado a se colocar no lugar dele. Nada como fazer as pessoas provarem do próprio preconceito para que elas percebam como antes eram preconceituosas.

Marketing criativo:
Uma campanha de marketing do filme começou em 2008, na San Diego Comic-Con, enquanto o trailer surgiu em Julho de 2009. Em entrevista, o diretor Blomkamp afirmou que a idéia era fazer o público sentir, no começo, uma certa ojeriza pelos aliens, que eles parecessem insetos nojentos, mas, ao longo da história, criar uma empatia por eles. Houve toda uma pesada campanha publicitária em estilo realista, com cartazes espalhados por cidades americanas pedindo para denunciar aliens e mantê-los à distância; havia até um número para telefonar e uma secretária para atender e encaminhar a denúncia. O site abaixo explica o que acontece:
Apesar do tom sinistro de brincadeira, muitas das entrevistas vistas no filme são bem reais e falam de uma África do Sul que vai além da relação mais óbvia com o apartheid. Blomkamp entrevistou sul-africanos pobres sobre o que eles achavam dos "alienígenas ilegais" (similar a "imigrantes ilegais"). Como não sabiam do filme, os entrevistados soltavam o verbo contra os zimbabuanos que passaram a imigrar em massa para a África do Sul nos últimos dez anos, fugidos da ditadura de Robert Mugabe e povoando as favelas do país vizinho. Nada melhor do que passar a história na áfrica, representando a guerra entre duas raças. O filme também abre espaço para os grupos de direitos humanos, que chegam a defender os aliens contra os abusos por parte dos “mercenários” da MNU.