Apresentação

Como cheguei aqui

Sempre gostei de indicar filmes e compartilhar informações, sensações e opinião pessoal sobre eles. A atividade cinematográfica é uma das minhas paixões. Optei aqui por indicar 3 filmes por mês, manifestando a minha opinião como um simples espectador, compartilhando algumas informações sobre os filmes selecionados. Espero que o resultado seja agradável para quem visitar.

Enquanto for interessante, estarei por aqui...


Cinema Paradiso (Itália/França, 1988)

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Monstros

Eu indico
Monsters (Reino Unido, 2010)

A NASA descobriu formas de vida alienígena dentro de nosso sistema solar. Ela envia uma sonda para coletar amostras, mas ao voltar à Terra sofre um acidente e cai no América Central. Seis anos depois uma nova forma de vida surge no México. O país é isolado como uma área infectada. Neste cenário, um jornalista fica encarregado de levar a filha do chefe de volta aos EUA, tentando chegar na fronteira. Dirigido por Gareth Edwards.

O amor e o medo:
A fronteira entre o México e Estados Unidos é um cenário de conflitos, propício para ser a base deste filme que, na verdade, é mais drama do que ficção. A zona entre um país e outro está em quarentena, desde que formas de vida extraterrestre caíram no México, por acidente, trazidos numa sonda espacial, seis anos atrás. A interação com o filme é interessante, pois com o passar das cenas, as coisas ficam mais claras, como por exemplo, o fato de que os alienígenas não vieram para invadir, conquistar, destruir; vieram por conta de um acidente sob responsabilidade de seres humanos. Sendo assim, nada mais natural do que se defenderem para sobreviver. A crítica sobre a mídia distorcendo as informações é clara e, com um pouco de atenção, percebemos quem são os verdadeiros monstros da história. Com certas características de documentário, funciona bem como um universo particular criado pelo diretor Gareth Edwards, especialista em efeitos visuais que tem, neste, a sua primeira experiência com direção. Temos efeitos interessantes considerando que gastou menos de 500 mil dólares. O diretor agora vai encarar o novo filme de Godzilla, previsto para 2014.
Num cenário de terceiro mundo, usando a técnica da sugestão, onde raramente vemos as criaturas por inteiro, somente os efeitos de sua passagem (bichos grandes parecidos com polvos), ou através de imagens e informações intermediadas pela TV, este filme trata também de dois sentimentos humanos, o medo e o amor. Não somente do ponto de vista dos personagens, mas também dos seres de outro planeta. Estrelado pelos atores Scoot McNairy e Whitney Able, interpretando um jornalista tentando atravessar a fronteira do México com os Estados Unidos, encarregado de levar a bela filha do chefe nesta arriscada empreitada. O trama de fundo romântico extrapola em uma cena onde vemos duas criaturas se relacionando, o que aproxima elas do comportamento humano. Além da sutileza se percebermos a condição das criaturas, maltratadas, e que estão tão aterrorizadas quanto nós. Murais velhos com ilustrações das criaturas mostram que, depois de seis anos, o México se acostumou às mudanças, embora o preconceito e a cegueira ainda estejam instalados. Até os humanos acabam sofrendo com a monstruosidade dos bombardeios na fronteira, responsáveis pela maioria das mortes no filme, embora a mídia seja tendenciosa em acusar os seres alienígenas.

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Fontes:

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Milagre em Milão (“Miracolo a Milano”)

Eu indico
Miracolo a Milano (Itália, 1951)

Uma mulher adota um bebê abandonado em sua horta. Depois de sua morte, o garoto é enviado para o orfanato. Ao completar 18 anos, Totó (Francesco Golisano) vai para Milão, onde passa a morar num terreno ocupado por miseráveis, mudando a vida de todos com sua bondade. Após descobrirem petróleo, os moradores são ameaçados pelo proprietário, que manda a polícia desocupar o local. Quando tudo parece perdido, Totó recebe uma ajuda dos céus, começando a fazer muitos milagres. Dirigido por Vittorio de Sica.

Milagre:
Para começar, o filme é um clássico do diretor Vittorio de Sica, o mesmo de Ladrões de Bicicletas (1971), que foi um dos primeiros diretores a usar elementos de neorrealismo nos filmes italianos. Em “Milagre em Milão”, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, é interessante como o diretor usa elementos de ficção na sua obra, e ainda mostra uma Itália suja, assolada pela miséria. A história de Totó é como uma fábula, ele surge no meio de uma plantação, no quintal da casa de uma senhora. Ela o adota e vemos, assim, a importância da criação, do exemplo que a mãe dá, mesmo não sendo a progenitora (não sabemos de onde veio o garoto e ele nem se importa com isso). Numa bela cena, o garoto derrama o leite na casa, e a senhora, ao invés de reprimi-lo ou castigá-lo, usa o cenário formado para brincar com o garoto e ensinar uma lição: “Que grande lugar é o mundo!”, diz a senhora. Após ela falecer, Totó vai para o orfanato e só sai quando adulto. Ele não sai revoltado, desesperado. Pelo contrário, ele abraça a vida que é possível ter. Se acomodando em um terreno tomado por mendigos, sua maneira de olhar o mundo, seu comportamento, vai contagiar a todos, com direito a um acontecimento especial – um milagre – que será concretizado através do garoto. Na verdade, o garoto em si já é o milagre, sua forma de encarar a vida, ajudando ao próximo, não se colocando acima de ninguém e considerando todos importantes. É a figura da gentileza, da simplicidade, a pregação da igualdade. Diante de alguém com menor estatura, o garoto se abaixa.
Os pobres, oprimidos, estão numa situação difícil: terão que abandonar sua morada por conta de um burguês que anseia pelo local. Só mesmo um milagre para salvá-los. Quando tudo parece perdido, Totó recebe uma ajuda dos céus, começando a produzir os milagres. Cenas engraçadas surgem, com seus efeitos especiais que, para a década de 50, foi também como um milagre para o cinema. Temos cenas como a do negro e de uma branca que se aproveitam do milagre para tentar ficar juntos, outra com soldados que são obrigados a cantar ópera para não falar o comando de ataque aos pobres moradores, entre outras. Numa cena, vemos que um garoto é usado como uma espécie de campainha (preso à uma corda, ele avisa quando alguém chegou à porta e puxou a corda). Bem engraçado!
Criatividade, cenas divertidas e muita reflexão. Sem contar o ator Francesco Golisano, que ficou muito bem no papel de Totó, nos contagiando com a alegria de viver, em contraste com a vida que leva, como se o maior dos problemas na verdade nem fosse um problema. O filme trata simplicidade e prega a verdadeira revolução. Os pobres, em uma cantoria agradável, mostram o que querem:

“Tudo o que precisamos é de um barraco
Para viver e dormir
Tudo o que precisamos é de um pedaço de chão
Para viver e morrer
Tudo o que pedimos é um par de sapatos
Umas meias e um pouco de pão
É tudo o que precisamos para crer no amanhã
É tudo o que precisamos para crer no amanhã.”

Só mesmo um milagre dos céus para ajudá-los, e uma mensagem de que nós podemos, com nossas atitudes, ser o milagre da vida. Perante Deus, somos todos iguais, como diz a frase no filme:

Existe um reino onde "bom dia" quer dizer realmente "bom dia"!

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Fontes:

terça-feira, 6 de agosto de 2013

A Espuma dos Dias (“L’ecume des jours”)

Eu indico
A Espuma dos Dias (França / Bélgica, 2013)

Colin, um jovem rico, quer se apaixonar. Com a ajuda de seu cozinheiro Nicolas e de seu melhor amigo, Chick, ele conhece Chloe, com quem se casa. Mas logo após seu casamento, Chloe fica doente. Ela tem um lírio de água crescendo em seu peito. Arruinado por despesas médicas, Colin recorre a métodos cada vez mais desesperados para salvar a vida da amada. Dirigido por Michel Gondry.

Fábula fantástica:
O diretor Michel Gondry, de “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” (2004), decidiu nos apresentar a um mundo surreal e fantástico, parecido com o nosso, sendo que através das semelhanças ele faz suas críticas à Revolução Industrial, Igreja, filosofia, capitalismo, entre outros, chegando até os sentimentos humanos, principalmente em relação à fragilidade do amor. Desde o início do filme, onde conhecemos o exótico ambiente de Colin, sabemos que o estilo, adaptado da obra de Boris Vian, autor do livro “A Espuma dos Dias”, é de um universo surreal, com comportamentos inventados e engenhocas fantásticas. Após duas adaptações, uma francesa de 1968 (“'A Flor da Vida, dirigido por Charles Belmont) e outra japonesa de 2001 (“Kuroe”, de Gô Rijû), chega agora às telas essa nova versão.
O cineasta francês parece gostar de explorar os limites da tecnologia e do surreal. Com direito a um piquenique com sol e chuva (ao mesmo tempo), objetos loucos como uma campainha que se move como um despertador pirado (que deve ser destruída toda vez), mesas móveis, comida que dança, um cozinheiro que orienta um aprendiz de dentro do fogão e da geladeira, um ratinho-homem que ajuda em várias atividades, e até um “pianocktail”, um piano que faz as bebidas de acordo com a nota musical e a intensidade com que ela é tocada. Brincando com imagens, sons, músicas, palavras e tudo o que existe, temos uma obra visual cheia de alegorias e todo um mundo em movimento.
Mas tudo isso é uma desculpa, não somente para criticar algumas questões da vida, mas principalmente para mostrar uma história de amor, que vai desde o seu surgimento meigo, interessante e alegre, até o seu estado de sofrimento por conta de uma fatalidade. Colin (Romain Duris) e Chloé (Audrey Tautou) se apaixonam e decidem viver juntos. Tudo vai bem até que a moça fica com uma grave doença após ingerir uma flor, que passa a crescer em seu pulmão. A situação em si é tão trágica e rara, como vários aspectos do filme. A partir desse fato, o filme ganha uma grande nebulosidade, as cores que eram vivas se perdem, a escuridão aparece, as engenhocas divertidas vão sumindo aos poucos, ou definhando junto com os personagens. O personagem Nicolas, fiel amigo, cozinheiro e faz-tudo de Colin, interpretado pelo carismático Omar Sy, de “Intocáveis” (2011), nos momentos de dor e sofrimento, reage com um envelhecimento desnatural.
A fotografia é fantástica, seja na primeira parte do filme (cores vivas e muita alegria), seja na segunda (cores ausentes e tristeza), onde tudo muda de tom e as pessoas são afetadas junto com o ambiente. O amor faz renascer, mas também pode fazer desabar toda uma vida, neste caso paulatinamente, mas com a sensação de efemeridade, como uma espuma que vai sumindo com os dias, e como se nos afundasse, enfim, num pântano sujo e escuro. Não deixa de ser uma fábula fantástica sobre a vida, o amadurecimento, os momentos bons e ruins e o preço do sentimento e do apego.

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Fontes: