Apresentação

Como cheguei aqui

Sempre gostei de indicar filmes e compartilhar informações, sensações e opinião pessoal sobre eles. A atividade cinematográfica é uma das minhas paixões. Optei aqui por indicar 3 filmes por mês, manifestando a minha opinião como um simples espectador, compartilhando algumas informações sobre os filmes selecionados. Espero que o resultado seja agradável para quem visitar.

Enquanto for interessante, estarei por aqui...


Cinema Paradiso (Itália/França, 1988)

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

O Atalante (França, 1934)

Eu indico
L'Atalante (França, 1934)

Jean (Jean Dasté), jovem capitão de uma barcaça a motor chamada de Atalante, casa-se com Juliette (Dita Parlo), filha de camponeses. Mal a cerimônia acaba e os dois vão viver embarcados, navegando pelos canais de Paris. Há uma crise entre os dois, Juliette foge para a vida noturna parisiense, e Jean mergulha numa profunda depressão causada pela ausência da amada. O velho lobo do mar Jules (Michel Simon), ajudante de Jean, percebe a situação e sai em busca de Juliette. Dirigido por Jean Vigo.

Atalante:
Apesar de ter vivido menos de 30 anos e dirigido poucos filmes, Jean Vigo é considerado um cineasta que pensava bem à frente do seu tempo. Dirigiu dois filmes que marcaram o cinema francês e mundial: Zero de conduta (Zéro de Conduite, 1933) e O Atalante (L'Atalante, 1934). Este último teve que passar por restaurações para ficar disponível nos dias de hoje. Desde sua criação em 1934, se submeteu a diversas mutilações e tentativas de restauração, e a versão resultante parece que ficou bem fiel à original.
Neste filme, podemos conferir uma grande realização do diretor, que sai da mesmice de romances clássicos para deixar sua marca: realismo, naturalidade. Na trama, um casal com uma forte ligação física, vão passar a lua-de-mel em um pequeno espaço (interior do barco denominado Atalante), já dando uma ideia de que uma relação pode acabar com a liberdade do outro. Logo a moça é seduzida pela cidade grande e acaba fugindo para descobrir os prazeres desta vida. Aqui temos a presença marcante do ator Michel Simon, como o père Jules que, junto com seu assistente, fará de tudo para encontrar a garota e restabelecer o relacionamento dos dois. Estes dois empregados que cuidam da embarcação, a princípio se mostram atrapalhados, como pode ser visto na recepção do casal no barco; porém, diante de uma situação séria, mostram seu bom coração e maturidade para ajudar o casal. O personagem Jules, além de bem interpretado, surpreende numa cena onde tira a camisa e mostra várias tatuagens exóticas no corpo, e seu quarto cheio de objetos diferenciados também mostra um pouco da sua personalidade, excentricidade e maturidade.
O ambiente um pouco sombrio do filme casa com a temática principal apresentada (o casamento), forma pela qual o diretor decidiu se expressar. A difícil situação econômica e social da década de 30 também é mostrada numa cena onde Juliette tem que encarar uma fila de desempregados nas ruas de Paris. Auxiliado pela fotografia de Boris Kaufman com seus tons de iluminação escura e nebulosa, ainda mais com o fato de ser um filme em preto e branco, culmina com a atmosfera da cidade grande, pessoas perdidas e desiludidas, sem rumo e sem opções.
A felicidade parece, a princípio, se resumir aos prazeres físicos e a abundância, assim Juliette tenta se desfazer da submissão do marido autoritário. Aceitar a realidade e libertar o outro depois de sentir o verdadeiro amor é cruel para Jean. Vemos um pouco disso numa cena que mistura fantasia e realidade, quando Juliette diz acreditar que o rosto da pessoa amada pode ser visto debaixo d’água, e posteriormente Jean enxerga Juliette embaixo d’água, tendo assim uma visão do diretor sobre o verdadeiro amor. Apesar da versão recuperada ter alguns problemas com o som, a trilha de Maurice Jaubert, compositor de Jean Vigo e Marcel Carné, mostra uma das primeiras tentativas bem sucedidas de usar efeitos sonoros além da música.

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Fontes:

http://www.revistacinetica.com.br/oatalante.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Vigo#Filmografia

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

As Aventuras do Príncipe Achmed (Alemanha, 1926)

Eu indico
As Aventuras do Príncipe Achmed (Alemanha, 1926)

Um feiticeiro maligno engana o príncipe Achmed, convencendo-o a cavalgar em um cavalo alado. O príncipe percebe ser capaz de conduzir o cavalo e este o leva para diversas aventuras, até que acaba se apaixonando pela linda princesa Peri Banu. Dirigido por Lotte Reiniger.

Clássico das animações:
Parece um espetáculo teatral sem falas (é um filme mudo), mas com música, som e movimentos bem planejados. Praticamente cada cena só usa duas cores, tendo sempre o preto. Cenas com preto e laranja, preto e azul, etc, geram uma surrealidade bacana. Impressiona o jogo simples de luzes e sombras, um conceito surgido e popularizado na China, de onde são oriundas as famosas caixas de sombras. A diretora alemã Lotte Reiniger foi pioneira no uso da animação em sombras chinesas. As figuras do filme foram recortadas e manipuladas à luz de câmara pela realizadora.
A animação contém vários personagens, bem apresentados na introdução, com muita aventura, fantasia e romance. Até Aladim aparece como um dos personagens. Trata-se de uma adaptação dos conhecidos contos de “As Mil e Uma Noites”. Cada quadro é um espetáculo individual, usando a mudança de cores para indicar se estamos em um espaço interno ou externo, ou para aumentar o clímax e indicar a temperatura da cena. Figuras feitas de cartolina preta fazem movimentos complexos, desde dedos, boca, braços e corpo. A música de Wolfgang Zeller é uma sinfonia que acompanha bem os acontecimentos. A fotografia de Carl Koch (parceiro presente de Renoir) também maximiza o resultado da obra.
Logo no início do filme nos deparamos com a seguinte informação: “As aventuras do Principe Achmed foi lançada na Alemanha em 3 de setembro de 1926. Nem o negativo original, nem a copia do original da versão alemã existem mais. Esta reconstrução foi baseada em um fragmento de uma copia de nitrato com informação das legendas em inglês pelo arquivo nacional de filmes e televisão em Londres. Este foi recopiado e as informações da legenda original alemã foram inseridas de acordo com o cartão censor sobrevivente”.
Em 1908, o curta animado “Fantasmagorie”, de Émile Cohl, fascinou as plateias mostrando as possibilidades da animação. Trata-se de uma animação interessante que pode ser encontrada facilmente no youtube. O primeiro longa-metragem de animação foi o argentino “El Apóstol” (1917), dirigido por Quirino Cristiani. Infelizmente foi completamente perdido em um incêndio, em 1926. Depois veio “As Aventuras do Príncipe Achmed”, que então se torna o primeiro longa-metragem de animação acessível. Logo depois, em 1928, a Disney entra no jogo e lança a primeira animação onde aparece Mickey Mouse: “Steamboat Willie”, que por sinal o início desta animação é usado para apresentar a logomarca da Disney antes do início de alguns filmes com a produção desta.

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Fontes:

Livro “Tudo Sobre Cinema”, editado por Philip Kemp e com o prefácio de Christopher Frayling

sábado, 14 de dezembro de 2013

Os Filhos da Meia-Noite (Midnight's Children, 2012)

Eu indico
Midnight's Children (Canadá / Reino Unido, 2012)

Em 15 de agosto de 1947, a Índia conquistou a sua independência. Neste exato momento, à meia-noite, nasceram duas crianças em uma maternidade. No entanto, uma enfermeira decidiu trocá-los: Saleem, filho indesejado de uma mãe pobre, foi criado no lugar de Shiva, o filho biológico de um casal rico. A história dos dois garotos será para sempre ligada ao destino político do país, principalmente quando a Índia entra em guerra, e eles se encontram em lados opostos na batalha. Dirigido por Deepa Mehta.

Índia:
O roteirista e narrador deste filme é o próprio Salman Rushdie, escritor do livro “Os filhos da meia-noite”, um romance de 1980 que venceu alguns prêmios importantes, como o de melhor livro publicado durante os primeiros 25 anos do mais importante prêmio literário britânico. A direção ficou por conta de Deepa Mehta, indiana radicada no Canadá, duas vezes indicada ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro por "Terra" (1998) e "Água" (2005).
A história da Índia no século XX é mostrada através de uma saga rodeada de momentos fantásticos, seus eventos históricos significativos se misturam com a dramatização vivida pelos diferentes personagens e pelos momentos míticos que ressaltam a cultura indiana, e assim temos uma aula de conhecimentos sobre a história da Índia. Um visual deslumbrante e, provavelmente, realista, desde as grandes mansões, até as favelas.
O muçulmano Salim Sinai narra sua história desde 1919, antes até de seu nascimento (o que já dura quase meia hora de filme), mostrando a forma inusitada como seus avós e pais se conheceram e os eventos que levaram ao seu nascimento que, como se não bastasse, ocorreu em Bombaim à meia-noite de 15 de agosto de 1947, no instante em que a Índia se tornava uma nação independente. Acredita-se que todos os mil e um indianos nascidos entre a meia-noite de 15 de agosto e a uma hora da madrugada de 16 de agosto de 1947 desenvolveram poderes extraordinários. Eles são capazes de se encontrar mesmo estando em lugares diferentes e, a partir disso, a história toma rumos interessantes.
Giles Nuttgens fica a frente da fotografia do filme, o que parece ter feito toda a diferença, até porque foi filmado no Sri Lanka e envolveu mais de 600 lugares, e sua competência em apresentar as cenas bem posicionadas e o uso das cores foi comprovada. Junto com isso, a produção e direção de arte, inclusive trilha sonora, ajudam a enaltecer o exotismo da Índia. Não tem como não recordar, então, do maravilhoso “Passagem para a Índia” (1984), dirigido por David Lean, e que também conta a história da Índia e mostra o choque cultural entre estrangeiros e habitantes locais.
Com certas pitadas de humor que não chegam a tirar a seriedade do filme, assim como os momentos mágicos, os personagens dão uma lição de convivência, amor e laços verdadeiros; movidos pelo amor, quebram e superam barreiras e tradições de laços sanguíneos - quando pais assumem como filhos crianças que não são suas, assim como quando presenciamos o amor além da questão do sexo.

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Fontes: