Apresentação

Como cheguei aqui

Sempre gostei de indicar filmes e compartilhar informações, sensações e opinião pessoal sobre eles. A atividade cinematográfica é uma das minhas paixões. Optei aqui por indicar 3 filmes por mês, manifestando a minha opinião como um simples espectador, compartilhando algumas informações sobre os filmes selecionados. Espero que o resultado seja agradável para quem visitar.

Enquanto for interessante, estarei por aqui...


Cinema Paradiso (Itália/França, 1988)

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

As Vinhas da Ira (“The Grapes of Wrath”, EUA, 1940)

Eu indico
The Grapes of Wrath (EUA, 1940)

A história de uma família de pequenos agricultores que, expulsos de suas terras no Oklahoma durante a depressão, atravessam o país em busca de melhor sorte na Califórnia. Dirigido por John Ford.

Família Joad:
Baseado no livro de John Steinbeck, este filme foi lançado um ano depois da obra e faturou o Oscar de melhor diretor (John Ford) e melhor atriz coadjuvante (Jane Darwell). Tal como é a fala do personagem Tom Joad (Henry Fonda, indicado ao oscar por este papel) no final da história (ver no final desta postagem), é este filme, extremamente inspirador. Tom é um homem que acabou de sair da cadeia e é recebido pela sua família com a triste informação de que eles serão expulsos de sua morada. O retrato da Grande Depressão que colocou muitas famílias de agricultores nesta mesma situação, com os bancos vendendo as terras e um sistema de exploração baseado em capital intensivo, com as máquinas sob o controle de assalariados agrícolas. Logo os tratores estão passando por cima das casas, fazendo com que muitas famílias fugam em busca da própria sobrevivência, buscando o suposto paraíso, a Califórnia.
Com foco na família de Tom, vamos acompanhando uma trajetória cheia de incertezas, desventuras e, também, de transformações pessoais. É na figura do amigo da família, o ex-pastor Casey, que surge a inspiração de Tom para ir de contra as injustiças e opressões contra os pobres. Numa sociedade que explorava cada vez mais a força de trabalho, surge para alguns a consciência de classe que vai resistir a isso.

“O Casy pode ter sido pastor, mas via as coisas com clareza. Foi como uma candeia. Também me ajudou a ver as coisas. ”
(Tom Joad)

Imaginar que foi lançado no finalzinho da Grande Depressão já pode dar uma ideia de como este filme balançou a cabeça dos americanos, já que mostra como o país era visto por muita gente que sofria com este cenário. A família de Tom é simples, e vai sofrer os diabos com a mudança, junto com muitas outras que eles encontram nos acampamentos de sem-terra da Califórnia.
O super lotando carro ambulante da família causa um impacto visual e significativo. É o único meio “viável” de transporte e o único bem que eles possuem, mas parece que vai desmontar a qualquer momento, assim como a família que logo vai sofrendo as consequências de sua situação. Logo no início da jornada o bisavô de Tom já abandona os demais quando não consegue, física e psicologicamente, abandonar suas terras. A adaptação é para poucos. Já a mãe de Tom retratada todo o sentimento passado pela família, com uma interpretação sensacional da atriz Jane Darwell. O brilho nos seus olhos e sua expressão facial transmite tudo: amor pela família, alívio quando surge esperança e momentos de tranquilidade, receio e resistência nas situações difíceis. Ela é um dos grandes sustentos da família e por isso mesmo tenta sempre se manter firme. A sua postura ao defender a família, até diante do filho que retornou da prisão, é de uma verdadeira mãe.

“Eles o machucaram, filho? Eles o machucaram e o enlouqueceram?
Às vezes eles fazem coisas com você. Eles o machucam até você se tornar um homem mau. E o machucam de novo e você se torna pior ainda. Até que não é mais menino nem homem, apenas malvadeza encarnada.”
(Ma Joad)

O filme “Vinhas da Ira” começa numa encruzilhada e termina em outra, só que com esperança. Assim como a faísca de esperança da família ao encontrar um acampamento do Ministério da Agricultura, que serve de dormitório para famílias em busca de trabalho, que logo se apaga quando percebem que a opressão também chega ali. Mas o personagem Tom, em seu conflito, já que no início está buscando somente a sobrevivência da família e, depois, desperta para a missão de pensar na sociedade, desperta para além do interesse pessoal e passa a pensar no todo. Henry Fonda cumpre seu papel de bom ator no discurso final, seu olhar transmite a mensagem junto com as palavras de um homem que, no passado, havia sido preso por assassinato:

“Andarei por aí no escuro. Estarei em toda a parte. Para onde quer que olhem. Onde houver uma luta para que os famintos possam comer, estarei lá. Onde houver um polícia a espancar uma pessoa, estarei lá. Estarei nos gritos das pessoas que enlouquecem. Estarei nos risos das crianças quando têm fome e as chamam para jantar. E quando as pessoas comerem aquilo que cultivam e viverem nas casas que constroem. Também lá estarei.”
(Tom Joad)

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Fontes:

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Tarde demais ("The Heiress", EUA, 1949)

Eu indico
The Heiress (EUA, 1949)

Catherine (Olivia de Havilland), uma jovem boa, vive um drama, pois seu pai não deixa que ela se relacione com ninguém. Ele faz de tudo para mantê-la presa, inclusive dizendo que ela é feia, ao contrário de sua mãe morta. Até que surge Morris Townsend (Montgomery Clift), que se interessa por ela. Mas o pai tentará impedir o romance dizendo que o único interesse que o rapaz tem é no seu dinheiro. Dirigido por William Wyler.

A Herdeira:
Este filme, premiado com o Oscar de melhor atriz (Olivia de Havilland), direção de arte, figurino e trilha sonora, possui um ótimo roteiro e é altamente recomendável. A direção de William Wyler é muito boa e os quatro principais atores, Olivia de Havilland, Ralph Richardson, Montgomery Clift e Miriam Hopkins estão ótimos em seus papéis, com destaque para os dois primeiros. Olivia de Havilland excede as expectativas, é a mesma atriz que fez o papel coadjuvante de Melanie em “…E O Vento Levou” (1939), no qual teve a sua primeira indicação ao Oscar.
Catherine Sloper, a herdeira do título original, é uma jovem doce mas sem muita beleza ou classe. Tímida, ingênua, nem sabe dançar para aparecer bem nos bailes. Mesmo sendo filha de um rico viúvo, o Dr. Austin Sloper, os pretendentes costumam por evitá-la. Seu pai é um médico muito rico e importante, um homem dedicado às aparências. Eles moram num palácio na Washington Square (que inspirou o título do romance que deu origem à peça teatral antes do filme), que fica bem no início da Quinta Avenida, em Nova York, símbolo de status social na cidade que se firmava como a grande metrópole americana. Neste contexto surge um rapaz bonito, elegante, Morris Townsend (Montgomery Clift era um jovem ator em ascensão, e neste filme cumpre também um papel importante com sua atuação), que rapidamente se interessa por Catherine, e ela corresponde ao rapaz. Morris não esconde de ninguém que não possui fortuna e é desempregado. Para Catherine, a sua sinceridade é um indicativo de honestidade. Já o seu pai reprova a união de cara, justificando que o rapaz está interessado somente na riqueza dela.
O melhor do filme é o fato de que as coisas não ficam muito claras, pelos acontecimentos que surgem a partir daí, e pelo comportamento do rapaz. Não sabemos se ali existe uma paixão verdadeira ou se, de fato, ele está interessado na herança (ou talvez as duas coisas). Catherine, cada vez mais apaixonada pelo rapaz, praticamente tem que escolher entre o seu amor e o seu pai, além de lutar para acreditar que o rapaz está realmente interessado nela e não no que ela possui. Reviravoltas interessantes e um final inesperado e com muito significado.
Com roteiro de Augustus Goetz e Ruth Goetz, o filme é uma adaptação da peça teatral dos roteiristas, tendo sido um grande sucesso na Broadway, por sua vez baseada na novela Washington Square, de Henry James (1843-1916). Possui um estilo clássico, com os bailes tradicionais da época, ambientado na classe alta de Nova York pelo século XIX, e representa muito bem os costumes, comportamentos e preocupações dessas famílias da alta sociedade da época, onde tudo gira em torno das aparências, da beleza exterior e da riqueza. A prioridade é um bom casamento e uma união de bens vantajosa para todos.

- “Uma criatura inteiramente medíocre e indefesa, sem nenhum porte.”
(Dr. Austin Sloper, se referindo à sua filha)

- "Morris precisa ficar comigo! Morris vai me amar por todos aqueles que não o fizeram!"
(Catherine, escancarando seus sentimentos)

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Fontes:
http://www.70anosdecinema.pro.br/461-TARDE_DEMAIS_(1949)

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Tudo o que Desejamos (França, 2011)

Eu indico
Toutes nos Envies (França, 2011)

Casada e mãe de dois filhos, Claire (Marie Gillain), de 32 anos, é juíza na cidade de Lyon, na França. Seu agitado cotidiano sofre um forte abalo: ela descobre que tem um tumor no cérebro e poucos meses de vida. Claire decide esconder sua morte iminente da família e ajudar Céline (Amandine Dewasmes), uma moça que pediu dinheiro emprestado a uma financeira e, sem condições de pagar, está sendo processada. Para isso, encontra a ajuda do colega de profissão Stéphane (Vincent Lindon). Dirigido por Philippe Lioret.

Desejamos...
Desejamos muitas coisas. Amor, saúde, justiça, são apenas alguns exemplos. O diretor Philippe Lioret assume um filme que é coerente e bastante maduro na abordagem de temas como estes. Na trama, a jovem juíza Claire tem câncer irreversível. O filme não fica focado nas cenas de sofrimento, vai muito além e aborda questões diversas, tendo a justiça um dos pontos centrais. É um excelente filme de tribunal e de relações entre pessoas. Interpretado por Vincent Lindon, Stéphane, juiz veterano e desencantado com a profissão, adquire rapidamente um afeto muito forte pela colega, talvez por ter se inspirado com o comprometimento e sacrifício pessoal dela, mesmo na situação delicada em que a mesma se encontra. A similaridade de ambos, indignados com a situação de Céline, e em busca da verdadeira justiça, acaba aproximando os dois nos últimos dias de vida de Claire. Isso fica claro no cuidado que ele passa a ter com ela e quando a presenteia com o símbolo da justiça. O significado dessa busca pela justiça pode dar um sentido a mais na vida da protagonista que possui pouco tempo de vida, e ao invés de se entregar a um tratamento invasivo, que só prolongaria um pouco sua vida e ainda com sofrimento, ela se entrega ao seu trabalho e a este ideal. Ambos os personagens são casados e felizes com suas famílias e a vida em família também é abordada no filme de forma bem singela, assim como a forte relação entre duas pessoas que a princípio eram somente colegas de profissão, uma jovem e um mais velho e maduro que se confundem entre seus ideais e seus sentimentos um pelo outro.
A justiça é discutida pelas suas facetas do que é justo e do que, de fato, é legal. A briga entre empresas grandes e pessoas desfavorecidas pode ter um resultado raro, a favor dessas últimas. O filme fala também de amizade, solidariedade, compaixão pelo outro. As cenas são delicadas em alguns momentos, como no carinho entre os casais, ou como na cena do lago, mas também fortes em outros. Entre a doença terminal e a busca pela justiça, nem sabemos se a personagem vai viver o suficiente para saber o resultado de sua batalha, pois vemos o quanto burocrática é a justiça, enquanto o tempo é um fator determinante para a protagonista. A narrativa é interessante quando nos mostra a passagem do tempo, pois inicia numa segunda, 13 de setembro, e vai até uma sexta, 14 de janeiro. Muitos detalhes podem ser detectados no filme, como quando Claire presenteia Céline com o mesmo perfume que sempre usou, o mesmo que o seu marido Christophe adora sentir nos seios da esposa. Ela mesma faz Céline usar o perfume nos seios, mesmo sabendo que a mesma viverá mais do que ela. Tudo o que desejamos está lá, tratado com realismo e mostrando algumas lições de humanidade.