Apresentação

Como cheguei aqui

Sempre gostei de indicar filmes e compartilhar informações, sensações e opinião pessoal sobre eles. A atividade cinematográfica é uma das minhas paixões. Optei aqui por indicar 3 filmes por mês, manifestando a minha opinião como um simples espectador, compartilhando algumas informações sobre os filmes selecionados. Espero que o resultado seja agradável para quem visitar.

Enquanto for interessante, estarei por aqui...


Cinema Paradiso (Itália/França, 1988)

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

A Noite dos Desesperados (EUA, 1969)

Eu indico
They Shoot Horses, Don't They? (EUA, 1969)

Em 1929, em plena depressão americana, uma desumana maratona de dança premiava o casal que resistisse por mais tempo na pista, mesmo que isso representasse a morte para o vencedor. Dirigido por Sydney Pollack.

Assim como cavalos:
Um concurso de dança se aproveita do desespero das pessoas para ganhar publicidade, sendo palco para mostrar o quanto alguém pode se sujeitar a qualquer sofrimento para ganhar alguma coisa. Estamos no final da década de 20, com as consequências da grande depressão pós queda da Bolsa de Nova York, onde de fato esses concursos existiam e atraíam milhares de pessoas necessitadas.
Baseado no livro de Horace McCoy, o filme mostra esse concurso que oferece um prêmio de 1.500 dólares somente para o casal que conseguir ficar mais tempo dançando. A maratona é desesperadora: a cada duas horas sem parar, dez minutos de descanso em acomodações desumanas onde o encosto é outra pessoa. Se alguém cai, tem dez segundos para levantar, como se fosse uma contagem do boxe. Como se já não bastasse, existe uma corrida de dez minutos, em volta de um círculo, onde os últimos três casais a cruzar a linha de chegada são desclassificados. Em uma dessas cenas da corrida, contemplamos em câmera lenta o desespero e empenho dos casais, retratando, junto com o resto da trama, uma sociedade em crise, onde pessoas se permitem uma absurda condição, numa desumana maratona de dança.
Em sua maioria vencidos pelo cansaço e pela dor, suas vidas não valem mais do que um cavalo ferido em acidente. Daí o curioso título original "They Shoot Horses, Don't They?" (“Eles atiram em cavalos, não é mesmo?”), uma referência ao ato de sacrificar o animal ferido para que ele não sofra mais, o que cabe como metáfora perfeita para este filme. E a plateia se diverte, torce, adota ídolos, aposta, como se os participantes fossem cavalos numa corrida. Até o expectador pode acabar entrando na torcida, principalmente pelo casal protagonista, Gloria (Jane Fonda) e Robert (Michael Sarrazin), nem que torça para que eles consigam, milagrosamente, sair bem dessa situação, até porque eles não tem perspectiva alguma no mundo lá fora.
A fome, miséria e desemprego atrai uma fila de pessoas querendo participar do concurso insano, pelo prêmio ou pelas refeições diárias. Alguns parecem estar sem rumo na vida e acabam entrando na competição. É a oportunidade de lidar com diversos personagens e fazer uma análise da sociedade da época, tanto os afetados pela depressão, quanto a minoria que está ali para assistir e se divertir. O destaque de atuação fica para o vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, por este filme, Gig Young, que interpreta o showman do concurso, um personagem feito para ser odiado, apesar de que, em alguns momentos, consegue ser humanizado. Com isto, a condução do diretor Sydney Pollack resultou na indicação de 9 Oscar, este que também já foi produtor e ator, e faleceu aos 73 anos em 2008.

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Fontes:

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Nossa Hospitalidade (EUA, 1923)

Eu indico
Our Hospitality (EUA, 1923)

Por volta de 1830, as famílias McKay e Canfield travavam uma grande rixa em Kentucky, nos Estados Unidos. Quando John McKay (Edward Coxen) é morto, a viúva manda o filho de 1 ano para ser criado pela tia em Nova York. Vinte anos depois, Willie (Buster Keaton) volta à Kentucky em um trem e vai lutar para ter suas posses de volta. Na viagem, ele conhece uma menina da família Canfield e se apaixona por ela, mas a rixa parece ainda não ter sido resolvida. Dirigido por Buster Keaton.

Hospitalidade:
Buster Keaton dirige e protagoniza este que é considerado o seu melhor filme por muitos críticos do cinema, embora ele mesmo tenha uma preferência por A General (1926), uma excelente comédia que pode ser conferida aqui neste blog (não dirigida por ele):
http://eueatelona.blogspot.com.br/2014/05/a-general-eua-1926.html
Como um dos grandes comediantes independentes (já que dirigia muitos de seus filmes), foi elevado ao nível de Charles Chaplin. Embora vistos por muitos como grandes rivais no mundo do cinema, na verdade eram quase como parceiros que concretizaram grandes filmes, cada um ao seu estilo maximizando a magia do cinema, chegando a atuar juntos numa cena relevante em “Luzes da Ribalta” (Limelight, 1952), de Chaplin, ambos com idade mais avançada.
Podemos perceber que “Nossa Hospitalidade” não abandona a comédia que prevalece nos filmes de Keaton. Contudo, existe toda uma questão dramática tratada. Ao tratar da hospitalidade, do saber acolher, característica fundamental para a boa convivência, neste filme ofuscada pelo ódio entre diferentes famílias, por conta de uma rixa forte ao longo dos tempos, o filme também garante sua faceta séria, embora a comédia prevaleça. É claro que os encontros e desencontros, atrapalhações, que são características fundamentais das comédias mudas, levam a situações engraçadas, mas o centro da proposta está lá o tempo todo: a intenção é acabar com a vida de Willie simplesmente por ele ser um membro da família McKay. Pessoas, muitas vezes, tão prezas à tradições absurdas, mesmo que as torne cruéis, acabam não enxergando o bem à sua frente. E tudo isso, no filme, é abordado com a leveza de uma comédia madura. As armações que o personagem de Keaton apronta para não ser pego e, ao mesmo tempo, ficar próximo de sua amada (sem que ela perceba que sua família quer acabar com ele) são criativas e divertidas. Reparem nas suas desculpas para não sair da casa da família Canfield, já que lá dentro, pelas etiquetas da época, ele não poderia ser maltratado. E o interessante de tudo é que a solução para sair desta situação é tão simples que, ao ser apresentada, de repente faz todo o sentido e nos arranca mais um sorriso.
Keaton vive seus personagens sem expressão no rosto - por isso etiquetado como “o palhaço que não ri” - mas as situações que vive nas cenas são hilárias. A cena onde McKay (Keaton) viaja de trem para a chegar à propriedade de sua família é surreal, lembrando cenas maravilhosas de “A General”, que provavelmente é a comédia mais relevante, que envolve trens, no mundo do cinema.

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Fontes:

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Traídos pelo Desejo (“The Crying Game”, 1992)

Eu indico
The Crying Game (Reino Unido /  Irlanda / Japão, 1992)

Fergus (Stephen Rea), um membro do IRA (Exército Republicano Irlandês), juntamente com outros companheiros terroristas, sequestram o soldado britânico Jody (Forest Whitaker). Eles mantém o soldado em cativeiro e pedem um resgate por ele. Se não forem atendidos em três dias, Jody será executado. Fergus fica encarregado de guardar Jody e acaba desenvolvendo uma amizade com este. Direção e roteiro de Neil Jordan.

A fábula do escorpião e da rã:
A sinopse acima é na verdade uma introdução do que pode ser visto neste surpreendente filme, indicado a seis Oscar: melhor filme, edição, ator (Stephen Rea), ator coadjuvante (Jaye Davidson), diretor e roteiro original (de Neil Jordan), sendo que venceu neste último. Talvez se não tivesse disputado com grandes filmes de 1992, como Os Imperdoáveis (de Clint Eastwood) e Perfume de Mulher (de Martin Brest), mais estatuetas seriam conquistadas. É até admissível que Os Imperdoáveis tenha recebido os prêmios de melhor filme e direção, assim como Al Pacino, quase imbatível no papel, como melhor ator em Perfume de Mulher. Entretanto, por mais que respeitemos a atuação memorável de Gene Hackman por Os Imperdoáveis, levando o prêmio de melhor ator coadjuvante, foi uma grande injustiça o Oscar não ter premiado o ator Jaye Davidson pelo papel de Dil, um ator de pouca visibilidade e que só chegou a atuar em 5 filmes. Seu papel neste é controverso, difícil para qualquer um. De um mero coadjuvante, o personagem Dil pode se tornar o principal centro de atenção do espectador, muito pela atuação excepcional do ator Jaye Davidson.
Este é um filme enigmático e surpreendente em muitos momentos, podendo causar um choque nas pessoas mais sensíveis. Pelo menos quanto a isso o reconhecimento do Oscar foi justo (melhor roteiro original). A fábula do escorpião e da rã, que Jody (soldado inglês sequestrado) conta à Fergus (seu carcereiro) é a metáfora que melhor representa o filme. Jody é interpretado por mais um grande ator, Forest Whitaker, que merecia pelo menos uma indicação, mas também foi injustiçado. O título original "The Crying Game" (algo como "O Jogo das Lágrimas") é o título de uma canção que Dil está cantando quando Fergus a encontra em Londres, canção de 1960 do inglês Dave Berry, regravada por Boy George. A trilha sonora em si é mais um ponto forte, com a produção musical de Anne Dudley e da banda Pet Shop Boys.
O destino, como se estivesse escrito, trilha os caminhos de Fergus, já que ele é o protagonista, ponto central da história. Mas o que entendemos é que a sua natureza o faz dono de seu destino, suas escolhas estão amarradas ao que ele é de fato, algo que ele aprendeu com Jody. Stephen Rea como Fergus surpreende, um membro do IRA, experiente, mas com uma certa sensibilidade. Difícil de ser interpretado com seus comportamentos, a princípio, controversos, aos poucos mostra o que ele é realmente. Sempre voltamos ao que o personagem de Forest Whitaker disse, quando eles se aproximaram no momento mais atípico possível. A partir daí nos deparamos com envolvimentos amorosos, conturbações e interrupções regadas por questões de opção sexual, preconceito e valores pessoais, principalmente através de Fergus que vai se revelando aos poucos, criando uma relação de dependência com Dil que vai nortear o clímax do filme.

Cena do filme que mostra o retrato na carteira de
Jody (Forest Whitaker, à direita), junto com Dil (Jaye Davidson)
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Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/The_Crying_Game