Apresentação

Como cheguei aqui

Sempre gostei de indicar filmes e compartilhar informações, sensações e opinião pessoal sobre eles. A atividade cinematográfica é uma das minhas paixões. Optei aqui por indicar 3 filmes por mês, manifestando a minha opinião como um simples espectador, compartilhando algumas informações sobre os filmes selecionados. Espero que o resultado seja agradável para quem visitar.

Enquanto for interessante, estarei por aqui...


Cinema Paradiso (Itália/França, 1988)

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Boyhood - Da Infância à Juventude (EUA, 2014)

Favoritos
Boyhood (EUA, 2014)

O filme conta a história de um casal de pais divorciados (Ethan Hawke e Patricia Arquette) que tenta criar seu filho Mason (Ellar Coltrane). A narrativa percorre a vida do menino durante um período de doze anos, da infância à juventude, e analisa sua relação com os pais conforme ele vai amadurecendo. Dirigido por Richard Linklater.

Mason dos 6 aos 18:
A inevitável passagem do tempo... passagem esta, carregada de momentos fortes (bons ou ruins) e até alguns extraordinários, vividos por poucos. Experiências que marcam o amadurecimento, o crescimento humano. Filmado durante 12 anos (começou em 2002), este filme é um retrato dessas experiências, da infância até a juventude, focada na vida de um garoto. O diretor Richard Linklater manteve os mesmos atores durante os 12 anos de produção, cada ano reunia a todos e filmava um pouco mais.
Assim, naturalidade e uma pequena sensação de documentário marcam o filme. Mas a naturalidade não veio somente disso, os atores foram excelentes, com destaque para os conhecidos Patricia Arquette e Ethan Hawke, assim como o protagonista (ator novato) Ellar Coltrane e a sua irmã no filme, a atriz Lorelei Linklater, todos extraordinários na interpretação, parecendo mesmo uma família de verdade.
O filme abre com uma música do Coldplay (“Yellow”) e contém outras trilhas bacanas. As músicas em si ajudam o espectador a se situar no tempo – para quem está preocupado com isso – junto com muitos elementos da narrativa mencionando fatos históricos nos EUA, como a candidatura de Obama. Outros, criativamente, nos situam mais facilmente: o sucesso da série Harry Potter e qual livro está sendo adaptado para os cinemas, os diálogos entre garotos que dizem quais os 3 melhores filmes do ano (“Trovão Tropical”, “Batman” e “Segurando as Pontas”, todos de 2008), um clipe de Lady Gaga e até o advento das redes sociais. Numa conversa surge a possibilidade de um novo filme de "Guerra nas Estrelas", o que dá mais uma pista. Para quem conseguir prestar atenção, o momento atual do filme é revelado constantemente. A trama só corre para a frente, o tempo vai passando e vamos percebendo, também, pela mudança física dos personagens, juntamente com o seu amadurecimento. O mais importante, contudo, é admirar como as mudanças na família são naturais, não assustam muito, sendo cheias de momentos simples e singelos. Acostumamos com as diferenças na relação dos garotos com o pai, regada de diversões, e com a mãe, com quem eles moram e com quem menos se divertem, já que ela é uma batalhadora na vida profissional para sustentar os filhos e recordista em relacionamentos que não dão certo.
Momentos comuns, simples, como descobertas da infância, tédio da adolescência, o primeiro amor, os conflitos em família, as mudanças de escola e até os cortes de cabelo. Diálogos inteligentes e realistas, que já é marca do diretor se lembrarmos de outros filmes dele, como Antes do Amanhecer (“Before Sunrise”, 1995), na verdade parte de uma trilogia que tem o Ethan Hawke discutindo a relação. Amigos de longa data, Richard Linklater e Ethan Hawke cresceram com pais divorciados que trabalhavam no ramo de seguros, que parece ser a carreira que o personagem de Ethan Hawke assume neste filme.
Do ponto de vista cinematográfico, é raro, mas não totalmente original, se lembrarmos do filme russo “Anna dos 6 aos 18”, um documentário de 1994, onde o diretor Nikita Mikhalkov fez uma série de perguntas a sua própria filha, de 1979, quando ela tinha seis anos, até 1991, apresentando assim um interessante panorama dos jovens que cresceram durante a derrocada da União Soviética. Por sinal, Lorelei Linklater, que interpreta Samantha, é a própria filha de Richard Linklater (e quase desistiu no meio das filmagens). Tanto ela, quanto Ellar Coltrane estão formidáveis, principalmente este último que, se não cumprisse bem seu papel, poderia levar o resultado do filme por água abaixo, já que o foco é no seu personagem.
Sem mudar o elenco, com sua fotografia e montagem impecáveis e criativo na forma de nos mostrar a passagem do tempo e transformações dos personagens, este é um forte candidato ao próximo Oscar. Sua maratona de 2 horas e 45 minutos é regada de sensações.

O tempo, as atitudes, a magia e as mudanças – SPOILER:
Em um momento, a mãe (Patricia Arquette) aconselha um imigrante que trabalha numa obra de encanamento de sua casa (porque ele se mostra inteligente, mesmo sem falar bem a língua local); futuramente, ele vira um dos gerentes de uma grande restaurante, e agradece a ela pelo conselho que o fez seguir o caminho dos estudos.
Em outra passagem, a existência de magia no mundo é questionada pelo protagonista, quando criança. O garoto, mais velho, recebe um conselho de sua professora, antes de entrar na faculdade, quando ele se mostra empolgado e aterrorizado. A professora fala: “Será bom. Loucamente bom. Gostei muito mais da faculdade do que da escola. Você encontrará sua turma na faculdade, sabia? Você ficará bem. Tem um bom coração, só precisa segui-lo. Boa sorte. Não esqueça de passar fio dental.”. Na faculdade, ele chega encontrando sua turma, fazendo amigos e conhecendo uma garota que combina com ele. Na troca de sorriso entre os dois, um momento mágico, uma perspectiva de que, de fato, tudo vai ficar bem e será loucamente bom. A magia ainda existe nos momentos simples e singelos.

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Fontes:

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Maze Runner - Correr ou Morrer (EUA, 2014)

Eu indico
The Maze Runner (EUA, 2014)

Ao acordar dentro de um escuro elevador em movimento, Thomas (Dylan O'Brien) chega à “Clareira”, se vendo rodeado por garotos que o acolhem. O local é um espaço aberto cercado por muros gigantescos. Assim como Thomas, nenhum deles sabe como foi parar ali, nem por quê. Sabem apenas que todas as manhãs as portas de pedra do Labirinto que os cerca se abrem, e, à noite, se fecham. E que a cada trinta dias um novo garoto é entregue pelo elevador. Dirigido por Wes Ball e roteiro de Noah Oppenheim.

O corredor do labirinto:
Existem livros que nos fazem esperar ansiosamente pela sua adaptação para o cinema. Neste caso, este filme me fez querer ler o livro, ou melhor, toda a saga Maze Runner, escrita por James Dashner, composta por quatro livros: “Correr ou morrer” (2010), “Prova de fogo” (2011), “A cura mortal” (2012) e “Ordem de extermínio” (2013). É um filme de ficção científica, lembra o estilo da franquia Jogos Vorazes, mas contém muito mistério. Como adaptação, parece que foi muito bem. Pelo menos, se o livro for melhor que o filme (é o que dizem), com certeza já vale a pena conferir toda a franquia.
Com um elenco jovem e agradável, o filme é rodeado de mistérios, teorias que vamos imaginar, algumas respostas que teremos e uma boa aventura, focada em fugas alucinantes, algo que sempre me agrada nos filmes de ação. Diante das diversas tarefas que cada um pode fazer (desde que aceito em seu papel) na Clareira, existe a tarefa dos "corredores", que são responsáveis por mapear o labirinto em busca de uma saída. Trata-se da tarefa mais arriscada, considerando que aqueles que não conseguiram voltar do Labirinto, antes deste fechar, nunca mais voltaram a aparecer.
A atuação de Dylan O’Brien consegue passar a sua sensação de perdição e descoberta, assim como a sua ousadia. Parece que há nele um talento para escapar de situações difíceis, algo especial no personagem, mais uma coisa para aumentar o mistério. A velha sensação de não saber o que está acontecendo, enigmas e todos os elementos de uma boa ficção com aventura marcam a trama. A arquitetura do labirinto criado por Dashner, revelada aos poucos, é bem interessante, assim como as “criaturas” sinistras. Wes Ball fez um bom trabalho assumindo a responsabilidade de quem adapta livros que já agradaram ao público. Ainda podemos sair do filme com uma ansiedade pela sua continuação, já confirmada pelos estúdios.

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Fontes:

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Viver (“Ikiru”, Japão, 1952)

Eu indico
Ikiru (Japão, 1952)

Kanji Watanabe, um idoso burocrata com câncer no estômago, é forçado a buscar o significado de sua existência nos seus dias finais. Dirigido por Akira Kurosawa.

Viver:
Considerado como um dos maiores filmes do diretor japonês mais famoso do mundo - Akira Kurosawa -, mostra a difícil situação de um homem idoso que descobre ter poucos meses de vida, diante de toda uma vida que ele percebe ter jogado fora. Mesmo com todos conflitos que este homem vai enfrentar, sua reviravolta repentina diante da morte que se aproxima, nos deixa uma grande lição.
Podemos dividir o filme em duas partes, a primeira mostrando a revolta e perdição de Watanabe diante da notícia fatídica, na qual passa a lembrar de momentos importantes de sua vida, se arrependendo de alguns, mas também sentindo saudade de outros bons momentos. Antes até mesmo de termos compaixão deste senhor, a sua mudança de atitude marca a segunda parte do filme, onde vemos a beleza da vida de um homem mesmo ao se aproximar a hora de sua morte.
Takashi Shimura protagoniza muito bem seu papel, sendo muito natural nas reações diante dos acontecimentos, até numa cena onde ele canta e chama a atenção das pessoas ao redor. Um detalhe é que esta mesma cantoria marca os momentos finais do filme, de forma emocionante.
RELAÇÕES PÚBLICAS: CHEFE DE SETOR. Está escrito na mesa de Watanabe, no seu ambiente de trabalho. Ele é o chefe de uma repartição pública na cidade de Tóquio, e está próximo de sua aposentadoria. Em mais de uma passagem, o diretor Kurosawa vai mostrar este mesmo ambiente, mas o espectador terá emoções distintas. Em dado momento, o serviço público é criticado diretamente, seja ao mostrar o protagonista em seu trabalho carimbando papéis e organizando a burocracia da repartição, mas sem fazer diferença alguma para a sociedade, seja numa marcante passagem onde um grupo da comunidade local precisa resolver uma questão pública, a respeito de um esgoto que poderia ser transformado num parque, mas acabam sendo sempre direcionados para a responsabilidade de outra repartição e, após algumas voltas, estão de volta ao começo. Ninguém ajuda a resolver o problema. Em outro momento, vemos que Watanabe abraça a causa e se realiza através dela, servindo de inspiração para os que ficarem. Saindo da mera burocracia e partindo para a ação política, contra todas as barreiras, tendo de convencer as demais repartições da prefeitura na condução das obras e outros atores afetados, percebemos que ele concretiza seu desejo com entusiamo. Kurosawa ainda incluí cena com a troca do chapéu do personagem, para marcar a sua transformação.
A doença, como provocador para uma consciência e preocupação com o sentido da própria existência, tem o seu lado bom. Primeiramente, vem a lamentação pelo que não viveu, ou que deixou de fazer. Mas antes de se dar por vencido, uma nova postura diante da vida, um cuidado com o mundo, com as pessoas, é a lição que fica.

"A vida é curta
Apaixonem-se, donzelas
Antes do desabrochar
Desfaleça os lábios
Antes da maré da paixão
Sinta dentro de você
Para aqueles como você
Que conhecem o amanhã”
(música cantada por Watanabe no filme)

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Fontes: