Apresentação

Como cheguei aqui

Sempre gostei de indicar filmes e compartilhar informações, sensações e opinião pessoal sobre eles. A atividade cinematográfica é uma das minhas paixões. Optei aqui por indicar 3 filmes por mês, manifestando a minha opinião como um simples espectador, compartilhando algumas informações sobre os filmes selecionados. Espero que o resultado seja agradável para quem visitar.

Enquanto for interessante, estarei por aqui...


Cinema Paradiso (Itália/França, 1988)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

O Lugar Onde Tudo Termina (EUA, 2013)

Eu indico
The Place Beyond the Pines (EUA, 2013)

Luke (Ryan Gosling) é um motociclista que pilota dentro de globos da morte para um circo itinerante. Quando descobre que sua ex-namorada, Romina (Eva Mendes), teve um filho seu, ele tenta se reaproximar dela. Sua intenção é mostrar-se um pai capaz de sustentar o filho e, para isso, Luke decide participar de uma série de roubos a bancos. Ao realizar sozinho um assalto, ele é perseguido pela polícia e acaba sendo confrontado por Avery Cross (Bradley Cooper), um policial que cumpria sua rotina fazendo a ronda diária. Dirigido por Derek Cianfrance.

Schenectady, Nova York:
Este filme tem como ponto forte as reviravoltas, com destaque para a mudança de foco nos personagens principais, os quais entram e saem da trama nos deixando sempre sem saber quem será posto em evidência, contudo, claramente todos eles possuem uma ligação e a história se mantêm firme em sua proposta. Esta proposta é simples: reflexos de reencontros entre pessoas que compartilharam algum momento marcante. Com um clima bem misterioso, não entendemos sua mensagem principal logo de cara; na verdade, pela segunda metade do filme as coisas vão sendo relevadas.
Ryan Gosling representa um personagem confuso, propenso a violência, mas não necessariamente perverso. Outros personagens até enxergam seu lado bom, antes que o espectador caia na armadilha de julgar o mesmo somente pelo lado ruim. Diante de um filho recém-nascido, ele acaba perdendo o controle, como se fosse um motoqueiro que comete um erro fatal no globo da morte (profissão na qual ele atua). Bradley Cooper, então, já é um personagem com família estabeleciaa, senso de justiça, mas que passará por uma grande atribulação, principalmente interna. Não existem somente os dois, outros personagens tomam seu caminho na vida e percebemos como decisões repentinas podem mudar tanto o rumo de cada um, quanto o de outras pessoas que nem imaginavam existir. Muitas vezes, a pressão de determinada situação nos leva a cometer ações nas quais a consequência só aparece muito tempo depois. É sustentando esse mistério - a ser revelado em momentos oportunos - que o filme agrada, mostrando por exemplo, através de um dos personagens, o remorso, que atinge seu ponto insuportável após um certo tempo. Mas também vemos uma solução através do perdão e das atitudes escolhidas para os dias vindouros, principalmente a questão de perdoar a si mesmo.
É bem interessante como o personagem de Bradley Cooper entra em cena como se fosse um coadjuvante qualquer, um personagem passageiro, mas na verdade se torna um dos pontos centrais da trama. Dessa forma, todo um significado que não se perde com essas mudanças e reviravoltas culmina de alguma forma para o fechamento da trama. Na cena da perseguição, onde o mesmo surge, nem vemos o seu rosto, pois a perspectiva se mantém, um bom tempo, em primeira pessoa, nos passando melhor a sensação que ele está tendo. Não somente uma ótima atuação, mas também o recurso da filmagem ajuda o espectador a ter sensações mais intensas.
Parece que Ryan Gosling pilotou de fato a moto, numa das cenas, já que não foram encontrados dublês que aceitassem fazê-la. Esta mesma teve que ser rodada mais de 20 vezes, na qual ele passa entre carros antes que haja uma colisão envolvendo mais de 30 automóveis.
É um filme contínuo e sem retorno, saltando no tempo quando precisa e nos mostrando os personagens aos poucos, inclusive a forma como alguns deles terão um maior conhecimento a respeito de outros. O título original, “The Places Beyond the Pines” (O lugar além dos pinheiros), veio do nome da cidade de Schenectady, no estado de Nova York, onde se passa a história. Na linguagem dos índios mohawk, Schenectady significa “atrás da planície dos pinheiros”.
O diretor Derek Cianfrance e os produtores Lynette Howell, Alex Orlovsky e Jamie Patricof refazem a parceria com o ator Ryan Gosling, após o filme “Namorados Para Sempre” (Blue Valentine, 2010), o primeiro filme postado neste blog:

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Fontes:

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Isolados (Brasil, 2014)

Eu indico
Isolados (Brasil, 2014)

O psiquiatra Lauro (Bruno Gagliasso) e sua namorada, Renata (Regiane Alves), decidem passar férias em uma casa isolada na serra, porém o que parecia ser uma época de paz e sossego, acaba se tornando um pesadelo, quando uma sequência de ataques violentos na região se aproxima cada vez mais do casal. Dirigido por Tomas Portella.

Suspense nacional de qualidade:
Historicamente, o cinema nacional deixa a desejar no gênero suspense. Talvez por conta disso é que este filme tenha se destacado quando apareceu na 42ª edição do Festival de Gramado, abrindo a programação do evento. Outrossim, estamos num ano onde o suspense e o terror não passaram muito bem pelas salas de cinema, já que as produções lançadas em 2014 foram muito fracas; dessa forma, este filme pode ser considerado a melhor opção. Sendo um filme nacional, ajuda a mudar uma imagem de que este gênero, por aqui, nunca foi destaque.
De fato, mesmo comparando com produções internacionais, este filme brasileiro é um bom suspense. O diretor Tomas Portella soube introduzir rapidamente, nas sequências iniciais, toda a atmosfera misteriosa necessária para demonstrar o que viria pela frente, e isso é suspense de verdade, suspense psicológico. O cenário das florestas de Teresópolis ajuda a contextualizar a problemática pela qual a região passa quando assassinos insanos entram em ação. A cena inicial já é forte o suficiente para ganhar a atenção do público amante do gênero. O mistério vai sendo relevado aos poucos, as informações sobre os assassinos, os quais o diretor insiste em esconder os rostos, surgem a partir de depoimentos de personagens secundários. A fotografia usa as sombras das árvores e casas do vilarejo, mais ainda do casarão onde o casal Bruno Gagliasso e Regiane Alves vão ficar, isolados, com o objetivo de melhorar a relação. A casa, cheia de buracos nas paredes com vidros e luzes coloridas, pouca iluminação, ajuda a aumentar a tensão e o suspense. Podemos também nos preparar para um final interessante e, para muitos, surpreendente. A ameaça que vem do lado de fora da casa, rodeada pela mata com seus barulhos sempre curiosos e sinistros, vai marcar os melhores momentos do filme.
Este também é o último trabalho do grande ator José Wilker, no cinema. Ele faleceu em abril deste ano de 2014. No final do filme, uma frase “in memorian”, escrita por Wilker, é apresentada. Na verdade ela faz parte de uma matéria escrita por ele, em 2001, que contém um dos melhores depoimentos sobre o cinema que eu já li. Então, reproduzindo:

“Orson Welles, provavelmente mentindo, afirma que na verdade: 'um filme, além de morto, não está nem muito fresco. Vem numa luta. Fazer um filme leva tempo. O filme que estreia na semana que vem é do ano passado'. É um fato. Mas nós, que nos sentamos no escuro para seu velório, sempre o ressuscitamos. E quando isso acontece, que bela eternidade ele nos dá para o que sobrar do dia. Experimente. Pegue uma lanterna, uma lente e projete um fotograma na parede. O resto é the end.”
(José Wilker).

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Fontes:

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Gloria (Chile, 2013)

Eu indico
Gloria (Chile, 2013)

Gloria (Paulina García) é uma mulher de 58 anos, cujos filhos já saíram de casa há algum tempo. Como se recusa a ficar sozinha em casa às noites, ela tem o hábito de ir a bailes dedicados à terceira idade. Lá ela conhece vários homens, com os quais costuma se empolgar e, tempos depois, se decepcionar. A situação muda quando conhece Rodolfo (Sergio Hernández), um ex-oficial da Marinha que é sete anos mais velho do que ela. Gloria se apaixona por ele e passa até mesmo a aspirar um relacionamento permanente. Dirigido por Sebastián Lelio.

Viva cada momento:
Santiago do Chile. Uma cidade linda, mesmo assim com habitantes que procuram vencer a solidão que vem junto com o cotidiano. Uma situação bem comum nos dias de hoje, que leva muitas pessoas, principalmente mulheres mais velhas, a se entregar à solidão. Gloria, interpretada por Paulina García – que recebeu o Urso de Prata de melhor atriz no Festival de Berlim em 2013, por este papel –, poderia ser mais uma mulher assim, já que está desquitada e com quase 60 anos. Contudo, ela nos surpreende com suas atitudes e forma de vida. Mantendo uma rotina que divide o trabalho e as baladas com naturalidade e responsabilidade, acompanhamos a personagem ouvindo rádio e cantando sozinha, indo em festas, dançando e arrumando companhias.
O filme mostra que existe sensualidade em uma personagem assim, contrastando com a tipologia hollywoodiana de personagens femininos sensuais. Inclusive, temos belas cenas de nudez entre casais mais velhos. Além disso, sua afirmação como mulher, superando o comportamento comum, está um pouco alinhada com a realidade do Chile que, em 2014, voltou a ser governado por uma mulher, Michelle Bachelet.
Ao conhecer um homem recém-separado, o envolvimento entre os dois ocorre rápido. Porém, com o tempo, percebendo que ele possui amarras do relacionamento anterior, sustentando e mimando as filhas que vivem exageradamente dele, Glória mais uma vez não se entrega ao comportamento comum e se reafirma. Mesmo sendo uma mulher mais velha em busca do amor no Chile, ela é incomum quando nos mostra suas decisões e desventuras, controlando seu próprio destino. Ainda assim, se mostra uma mulher sensível e apaixonada pela filha, como pode ser visto na cena do aeroporto.
Para os brasileiros, fica fácil identificar, em cenas distintas, duas músicas nacionais famosas: "Águas de Março", de Tom Jobim, cantada numa roda de amigos (em português mesmo) e “Lança perfume”, de Rita Lee, que surge em um clube para solteiros. O diretor Sebastián Lelio comentou que a música de Tom Jobim serviu de forte inspiração para a história, ambos combinam prazeres e dores de uma forma agradável e podemos, com uma certa atenção, perceber isso durante o filme.
Produzido por Pablo Larraín, diretor de “No”, filme excelente que representou o Chile no Oscar de 2013, o filme mostra que ter 60 anos não significa o fim da vida produtiva ou emocional. Gloria captou isso e controlou seu próprio destino, vivendo intensamente cada momento. Ela merece, inclusive, uma canção com o seu nome, a música "Gloria", escrita e interpretada por Umberto Tozzi, mais uma na trilha sonora do filme.

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Fontes: