Apresentação

Como cheguei aqui

Sempre gostei de indicar filmes e compartilhar informações, sensações e opinião pessoal sobre eles. A atividade cinematográfica é uma das minhas paixões. Optei aqui por indicar 3 filmes por mês, manifestando a minha opinião como um simples espectador, compartilhando algumas informações sobre os filmes selecionados. Espero que o resultado seja agradável para quem visitar.

Enquanto for interessante, estarei por aqui...


Cinema Paradiso (Itália/França, 1988)

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

O homem que incomoda (Islândia/Noruega, 2006)

Eu indico
Den Brysomme Manne (Islândia/Noruega, 2006)

Andreas desembarca numa cidade estranha sem lembrar como chegou ali. É recebido de forma cordial e inicia uma vida regrada, com trabalho, casa e até uma mulher encantadora. Mas rapidamente percebe que tem alguma coisa errada neste mundo perfeito. As pessoas não parecem sentir emoções genuínas e só falam de trivialidades. Dirigido por Jens Lien.

Acomodados ou incomodados:
Imagine Andreas, um homem comum, com uma vida nova que parece perfeita. Depois de curtir um pouco seu trabalho adequado, curtir sua companheira rica e bonita e até aproveitar a sua amante impecável, sofrer um abalo comum e tentar o suicídio clichê, ele aos poucos passa a perceber que falta, no mundo, emoções verdadeiras. Ninguém parece notar um homem morto, que aparentemente cometeu suicídio se jogando nas grades da cerca de um prédio (talvez mais um incomodado, só que este se entregou). Percebemos que há uma espécie de controle nessa cidade, onde alguns homens certificam-se de que tudo esteja funcionando bem. Os ruas, objetos e roupas parecem desprovidos de vida, sem textura e sem graça. Isso fica ainda mais evidente quando é mostrado um quarto mais colorido, arrumado e agradável (quanto mais com a proximidade do mar).
A vontade de se expandir e as dificuldades que uma sociedade como um todo pode trazer para aqueles que pensam fora da caixa. Andreas começa a perceber que as coisas simples e verdadeiramente prazerosas da vida estão ausentes neste mundo onde ele foi jogado. O som das ondas, músicas, bebês, chocolate quente, enfim, é algo que todos gostam mas parecem ter esquecido. Ele é o homem incomodado, que despertou contra a força da alienação, e este filme é para aqueles que não se contentam com o sossego de sempre, onde se faz o mesmo e se finge ser feliz. Não deixa de ser uma metáfora para o nosso mundo, com algumas simbologias, como a do sino que toca numa das cenas dando a ideia daquele ritual diário, ou a da placa standard (que significa padrão). Lançado no Festival de Cannes em 2006, esse filme norueguês gera grandes reflexões e análises, assim como identificação.

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Fontes:

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Sete minutos depois da meia-noite (2017)

Eu indico
A Monster Calls (EUA/Espanha/Canadá/Reino Unido, 2017)

Conor é um garoto de 13 anos de idade, com muitos problemas na vida. No entanto, todas as noites ele se depara com uma gigantesca árvore-monstro que decide contar histórias para ele, em troca de escutar uma história do garoto. Embora as conversas com a árvore tenham consequências na vida real, elas ajudam Conor a escapar das dificuldades através do mundo da fantasia. Dirigido por Juan Antonio Bayona.

Fábulas:
Baseado no romance “O Chamado do Monstro” (título original do filme), de Patrick Ness, que também assina o roteiro, este filme apresenta um garoto de apenas 13 anos de idade, que precisa amadurecer rapidamente, pois está diante de momentos difíceis: sua mãe está com uma doença terminal, seu pai é um pouco ausente e a sua avó, com quem terá que conviver, não tem uma boa relação com ele. Junto a isso, o velho problema de ser alvo de bullying na escola.
O garoto, interpretado de forma bem natural e encantadora pelo ator Lewis MacDougall, possui um talento para desenhar e é bem imaginativo, criativo. Daí que algo fantástico surge: um monstro (na voz de Liam Neeson) passa a visitá-lo sempre na mesma hora da noite e promete contar três histórias para o garoto, em troca de uma quarta que o garoto será obrigado a contar de volta. As histórias são fábulas interessantes, no filme exibidas como arte em desenho, o que chamam de aquarela, predominando o contraste do preto dos personagens com o ambiente ao seu redor e descartando assim aquele exagero com computação gráfica que vemos na maioria das produções de filmes semelhantes, o que aqui fica como um ponto positivo. O filme em si é uma grande lição, com histórias dentro da história, sendo que todas são voltadas para o garoto, fazendo parte do seu crescimento, amadurecimento. O drama real vivido pelo garoto é pesado, então não se trata de um filme preferencialmente para crianças. Apesar disso, temos um belo e emocionante final.
O diretor espanhol Juan Antonio Bayona foi cuidadoso nas cenas, principalmente porquê existem muitas alternâncias entre a realidade e a fantasia, mas ambas se complementaram muito bem. Ele foi diretor também do excelente O Orfanato (2007) e vai encarar a sequência de Jurassic World, previsto para 2018.

Referências a outras grandes histórias e o significado da figura do monstro - SPOILER:
É importante reparar nas referências que o filme faz a outras histórias famosas e cheias de significado. Explicitamente, temos uma cena do filme King Kong e a visão simples do garoto sobre a forma equivocada como os humanos lidam com o monstro-gorila-gigante, contudo é preciso um pouco mais de atenção para reconhecer outras referências tais como “O Incrível Homem que Encolheu”, que aparece desenhado no caderno que o garoto encontra no final do filme, onde novamente aparece “King Kong” e outras referências. Também nessa cena final vemos um retrato na parede que mostra o avó do garoto (abraçado com a mãe), que é o próprio Liam Neeson, que faz a voz do monstro. Assim fica mais evidente que esse monstro-árvore-gigante representa para o garoto a figura do seu falecido avô.

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Fontes:

domingo, 15 de janeiro de 2017

Sing Street (2016)

Eu indico
Sing Street: Música e Sonho (Irlanda/Reino Unido/EUA, 2016)

Dublin, Irlanda, 1985. Conor (Ferdia Walsh-Peelo) é um jovem obrigado a mudar de colégio, devido à difícil condição financeira de seus pais, que ainda por cima brigam sem parar. Desiludido, Conor tem um sopro de esperança ao conhecer Raphina (Lucy Boynton), uma garota que está sempre à espera na porta da escola. Disposto a conquistá-la, ele diz que está montando uma banda de rock e a convida para estrelar um videoclipe. Com o convite aceito, agora ele precisa fazer com que a banda exista de verdade. Dirigido por John Carney.

Música e sonho:
Os anos 80 nos deixaram com uma seleção de bandas sensacionais e muitas pessoas consideram essa época a melhor de todas para o mundo da música. O irlandês John Carney dirige esse contagiante filme que faz uma homenagem explícita às músicas anos 80. Mas não é um filme “de banda” como outro qualquer; a homenagem aqui é interessante pois ela permeia desde a influência das bandas na vida dos garotos, como na forma como se vestem, até em suas ações, no uso da melodia em suas músicas e também nos clipes que eles produzem. Acompanhamos inclusive a produção “caseira” dos videoclipes da banda, que ocorre da forma mais inusitada possível, gerando cenas divertidíssimas. A primeira delas eu fiz questão de rever algumas vezes.
É um modo divertido, engraçado e belo a forma como a banda dos garotos, chamada Sing Street, vai se desenvolvendo. Eles acabam se descobrindo bem talentosos e vão aproveitar cada chance de mostrar isso ao público. Nada mais nada menos que o mesmo diretor de “Mesmo se nada der certo” (Begin again, 2014), outro filme musical excelente. Em ambos os filmes existem músicas originais caprichadas, tão boas que poderia de fato existir uma banda de sucesso com essas músicas. Em Sing Street, como se não bastasse toda a trilha anos 80, as músicas compostas exclusivamente para o filme são vibrantes. A música "Drive it like you stole it", de Gary Clark, recebeu ao menos um prêmio de melhor canção no cinema.
O filme foi muito bem recebido no Festival de Sundance e acabou tendo uma indicação como melhor filme musical ao Globo de Ouro recente. Quem é apaixonado por bandas dos anos 80 vai se emocionar com algumas cenas deste filme. As bandas são apresentadas com cuidado; é uma notícia na TV, é um comentário de algum garoto, é uma música tocando na rádio, ou simplesmente a música é usada como trilha em algumas cenas. Uma delas faz referência ao The Cure e foi a que mais me chamou atenção, afinal, é uma das bandas que mais gosto. A música “In Between Days” parece vir no momento certo e se encaixa completamente com o enredo no filme. Além desta, temos muitas outras bandas legais como Duran Duran, Starship, Genesis, Tears for fears, Spandau Ballet e uma cena bem legal com a música “Maneater” de Daryl Hall & John Oates.
É incrível que este tenha sido o primeiro papel do ator Ferdia Walsh-Peelo, que interpreta o protagonista Cosmo. Ele chega de uma forma tímida, como seu personagem aparenta ser inicialmente, e logo dá um show de interpretação, principalmente quando está cantando. Na verdade todo o elenco ficou muito bom, principalmente os garotos da banda. A musa do protagonista, Raphina, interpretada pela belíssima Lucy Boynton, está deslumbrante e é fácil para qualquer garoto se apaixonar por ela. É aquele amor que um garoto tenta conquistar através das canções que ele deixa numa gravação em fita, na porta da casa dela.
Outro elemento importante no filme é o processo de compor a canção, como isso está ligado aos dramas que os garotos estão vivendo e como ocorre essa influência positiva das bandas que estão fazendo sucesso. Mais ainda, como a música é uma forma de se expressar, por exemplo, criticando a rigorosa disciplina da escola dos garotos. Enfim, muita coisa boa pode ser extraída de Sing Street e espero que este não passe desapercebido pelo público e que muitos tenham a sensação de alegria que eu tive ao assistí-lo.

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Fontes: