Apresentação

Como cheguei aqui

Sempre gostei de indicar filmes e compartilhar informações, sensações e opinião pessoal sobre eles. A atividade cinematográfica é uma das minhas paixões. Optei aqui por indicar 3 filmes por mês, manifestando a minha opinião como um simples espectador, compartilhando algumas informações sobre os filmes selecionados. Espero que o resultado seja agradável para quem visitar.

Enquanto for interessante, estarei por aqui...


Cinema Paradiso (Itália/França, 1988)

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Síndrome de Caim (“Raising Cain”)

Eu indico
Síndrome de Caim (EUA, 1992)

Charles Nix (John Lithgow) é um famoso psicólogo infantil. É obcecado pelo comportamento da filha. Sua esposa Jenny (Lolita Davidovich) está tendo um romance extra-conjugal com uma antiga paixão da adolescência (Steven Bauer). Quando a polícia reporta uma série de seqüestros de crianças na localidade, Jenny passa a ter que voltar suas atenções para o lar e encarar a possibilidade de que seu marido está tentando recriar os experimentos científicos do seu sogro.

“De Mented”, “De Ranged”, “De Ceptive”, De Palma:
Brian De Palma dirige este suspense e aplica os elementos essenciais de sua marca: pregando peças no espectador quando mostra novamente algumas cenas, só que num ângulo ou narração diferente, um diferente que faz toda diferença e vai aos poucos dando sentido à trama; aplicando a arte de assustar, aproveitando algumas situações para pegar o espectador de surpresa; usando os sonhos e pensamentos dos personagens, chegando um momento em que ficamos na expectativa se o que está acontecendo é mesmo a realidade; e aplicando algumas cenas longas e tensas, onde tudo começa tranqüilo e termina bem diferente. Com um bom roteiro e boa utilização de movimentos de câmera e essas famosas manipulações temporais que o diretor realiza, temos um filme interessante, bem ao estilo De Palma.
Para incrementar – e muito – o resultado do filme, temos um perfeito John Lithgow na pele do personagem principal, na realidade interpretando ao todo 5 papéis bem diferentes, dando uma visão prática do transtorno dissociativo de personalidade. Incrível não ter recebido alguma premiação pelo papel, embora em 2010 tenha recebido o Golden Globe de melhor ator coadjuvante e o Emmy de melhor ator convidado, pela atuação na série Dexter (ele faz o assassino Trinity na quarta temporada).

A Síndrome de Caim:
A vida de Caim e Abel é um exemplo de como duas pessoas criadas de maneira igual, se transformam mais tarde em pessoas completamente diferentes. Em um deles vemos a humildade e em outro soberba. Quando temos um problema, uma situação difícil, se tivéssemos o poder de mudar a situação, com certeza o faríamos. Mas cada pessoa pode fazer uma escolha diferente. Essa diferença de personalidade é tratada no filme, que tem um cunho psicológico e mostra diferentes personalidades numa mesma pessoa, a partir de uma experiência provocada. E o melhor de tudo é que o assunto toma proporções maiores no filme, como assassinatos e seqüestros de crianças.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O Espião que Sabia Demais (“Tinker, Tailor, Soldier, Spy”)

Eu indico
O Espião que Sabia Demais (Reino Unido / França / Alemanha, 2011)

No final do período da Guerra Fria, George Smiley (Gary Oldman), um dos veteranos membros do Circus, divisão de elite do Serviço Secreto Inglês, é chamado para descobrir quem é o agente duplo que trabalhou durante anos também para os soviéticos. Todos são suspeitos, mas como também foram altamente treinados para dissimular e trabalhar em condições de extrema tensão, todo cuidado é pouco. George precisa indicar o espião e não pode errar.

Funileiro, alfaiate, soldado, espião:
Após leitura da obra de mesmo título e no clima do Oscar 2012, assistir O Espião que Sabia Demais foi uma grande satisfação. Ambientada no início dos anos 70, a trama tem todo o clima da Guerra Fria, um elenco singular, um visual com coisas marcantes da época e uma ótima trilha sonora. Recebeu indicações para melhor ator (Gary Oldman), melhor roteiro adaptado e melhor trilha sonora original (Alberto Iglesias). O personagem principal, George Smiley, tem características marcantes, é quase um idoso, muito reservado, com uma quieta intensidade e inteligência, abdicando de qualquer diálogo que seja desnecessário, um cavalheiro respeitoso e com toda calma e expertise de um espião experiente. Outros atores também se destacaram na atuação, como Colin Firth (Bill Haydon) e Mark Strong (Jim Prideaux), personagens cumprindo papéis bem importantes na trama, sem contar com as poucas aparições de Simon McBurney (Oliver Lacon), também excelente.
Bem nas primeiras cenas, logo após a primeira aparição de Smiley, passam-se alguns minutos sem que o mesmo fale uma palavra, todo um momento - acompanhando de uma bela trilha sonora - desde que o mesmo é despedido do Circus, passando pelas salas com suas escrivaninhas antigas, escadas, até o velho porteiro diante da catraca do prédio. Mas ao invés de deixar seu legado, o mesmo acaba sendo chamado para descobrir quem é o “toupeira” (no livro o termo é usado com mais freqüência, para indicar um infiltrado do inimigo). A disciplina de Smiley fica bem exibida, como a atenção aos detalhes, o exercício de natação matutina, o comprometimento com a missão e a organização com o trabalho. Muito interessante também ter apresentado o lado humano e um pouco falho do personagem que, ao se embriagar, começa a falar sobre o seu sofrimento com a traição da ex-esposa.
O roteirista Peter Straughan afirmou que tentou criar as situações com o mínimo de diálogos possível, obrigando o espectador a ser atento à linguagem corporal e aos olhares dos personagens, e até a imaginar cenas de tensão que não são mostradas (em algumas delas, só vemos o desfecho). Existe um jogo por trás dos panos, um inimigo que até usa o provável ponto fraco de Smiley, que é a lembrança de sua mulher, Ann, que o persegue e, ao contrário do que foi apostado, também o ilumina. Um inimigo que também usa como arma a sedução (introduz também a questão da homossexualidade). Existem muitos espaços fechados e close nos rostos. A consumação da guerra causa um certo alerta do perigo nas poucas cenas de violência do filme (um homem mata uma coruja na sala de aula, uma mulher é executada diante de um homem que não a conhece).
Deixando de lado a proposta de outros filmes de agentes e espiões, que apelam para perseguições, tiroteios e explosões, aqui temos como predominante transações às escondidas, diálogos buscando um fio da verdade e o intelecto, tendo à disposição dos agentes aparelhos antigos e sem uma tecnologia de ponta. Muitos terminarão de ler o livro ou ver o filme desejando não ser um agente secreto; afinal, aqui um espião é meramente comparado a um funileiro, alfaiate, soldado ou até mendigo (no livro este último é atribuído a George Smiley). E bem nas cenas finais temos uma grande jogada em introduzir a música “Beyond the Sea” interpretada em francês.

John le Carré – Escritor, espião, produtor:
Praticamente uma autoridade no assunto de espionagem, antes de se consagrar como escritor, John Le Carré atuou no serviço secreto britânico nos anos 50 e 60, inclusive a serviço de Vossa Majestade. Isso explica o realismo de seus romances de espionagem, já que o mesmo sabe do que está escrevendo. Também participou da produção do filme, para garantir uma fidelidade alta à sua obra. A sua experiência nos serviços secretos terminou repentinamente, quando um agente duplo britânico denunciou a identidade de dezenas de espiões compatriotas ao KGB.
Assim como no filme, o livro mantém o clima frio e silencioso, um casamento do drama com o suspense numa atmosfera melancólica. Expõe honra e mentiras, segredos e traições, disputas de poder, intrigas e jogos duplos. Tem espaço até para afetos secretos e sacrifícios pessoais. Seguem dois trechos retirados do livro:
"A traição, de um modo geral, é uma questão de hábito, concluiu Smiley"
"Smiley afastou todas aquelas idéias, desconfiado como sempre das formas padronizadas dos motivos humanos"

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Jesus de Nazaré (“Jesus of Nazareth”) – de Franco Zefirelli

Eu indico
Jesus de Nazaré (Itália / Reino Unido, 1977)

Um clássico que conta a história de Jesus desde sua humilde origem, como filho de Deus. Sua viagem inclui o Sermão no Montes das Oliveiras, as Tentações de Satanás, a escolha dos Doze Apóstolos, a Última Ceia, a Crucificação e a Ressurreição.

Adaptação:
Trata-se de uma grande responsabilidade adaptar para as telas os acontecimentos relatados pela Bíblia, principalmente com foco no Novo Testamento, onde surge a figura de Jesus Cristo. Existem diversos filmes sobre a vida e obra de Cristo, sendo que este é considerado, por alguns autores, como a mais fiel recriação de cenários com base na narrativa dos evangelhos, mostrando Jesus em ação, muitas vezes rodeado pelo povo inquieto que se acotovelam para vê-lo melhor e lhe apresentar seus pedidos. O filme original (na verdade uma mini série transformada em filme) possui 6 horas e 22 minutos, utilizados com paixão pelo diretor e roteirista Franco Zefirelli, que conseguiu garantir uma boa completude dos acontecimentos, diálogos e cenários, maximizados por ótimas atuações (temos atores reconhecidos no elenco: Robert Powell, Ian McShane, Christopher Plummer, Anthony Quinn, Rod Steiger). O ator Yorgo Voyagis, que interpretou José, teve sua voz dublada para o inglês.
O que há de essencial está lá: nascimento conturbado do menino Jesus, as pregações de João Batista, parábolas contadas pelo mestre, a reação do povo diante da figura do messias aguardado por toda Jerusalém, o chamado aos apóstolos, os milagres, a traição de Judas, a crucificação e, mais do que tudo, os diálogos com os apóstolos e seguidores, seus ensinamentos e palavras transformadoras, sem contar com os debates de Jesus com as autoridades religiosas, suas respostas precisas e inquestionáveis. O estilo do diretor é bem poético e carregado de sentimentos, alinhado com a bela música de Maurice Jarre e fotografia de David Watkin. Temos o mérito também da equipe que escreveu o roteiro: Anthony Burgess, David Butler, Suso Cecchi D'Amico e o próprio Franco Zeffirelli. Nem tudo pôde ser colocado no filme. Senti falta, por exemplo, da tentação do diabo para com Cristo no deserto (quando oferece todos os reinos do mundo), de algumas parábolas, do diálogo em torno do tributo a César (a moeda do censo com a imagem e inscrição de César) e do encontro com Zaqueu.
Zefirelli confessou que tinha nas mãos uma arma e como podia ser decisiva para a vida de milhares de pessoas, tanto para o bem como para o mal. “Quando a pessoa tem a possibilidade de animar as pessoas que sofrem e de ampliar seus horizontes de esperança, sente uma responsabilidade excessiva para o pobre homem que é”.